Hospital Universitário Clementino Fraga Filho

Espaço Travessia

O coordenador Marcelo Moura Valle e os residentes multiprofissionais

Rio de Janeiro (RJ) – O mês de janeiro foi escolhido para abrigar a campanha Janeiro Branco, que busca trazer a saúde mental para o centro das discussões e combater o estigma que ainda permeia esse tema tão importante.

Neste contexto, compartilhamos uma matéria que fala sobre a visita dos psicólogos do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) ao Espaço Travessia, local outrora utilizado para o tratamento de pacientes psiquiátricos.

Os psicólogos residentes multiprofissionais em saúde do HUCFF estiveram em visita ao Espaço Travessia, que fica situado no Instituto Nise da Silveira, no bairro carioca Engenho de dentro, Zona Norte da cidade. A visita teve a intenção de apresentar a história do local, outrora utilizado para o tratamento de pacientes psiquiátricos. Marcelo Moura Valle, coordenador e curador, descreve o local:

– O Espaço Travessia é um espaço que ocupa dois andares de enfermarias desativadas do Instituto Nise da Silveira. Todos os quartos de enfermaria foram ou estão sendo transformados em pequenas galerias de arte que são ocupados com temas específicos. Aqui nós promovemos também atividades de extensão a que chamamos de ativações; são interações com as obras e instalações com o intuito de ativar memórias, histórias, afetos. Este espaço é diferente do museu – (refere-se ao Museu de Imagens do Inconsciente) – o museu traz outras características. Não temos acervo, ou exposição permanente, por exemplo. É mais dinâmico, orgânico, e aqui há também os ateliês onde está sempre sendo produzido algo, paralelamente às exposições.

No dia da visita estava montada uma ocupação com mais de cinquenta artistas chamada “Ainda Não Falamos Sobre isso” – O dito não dito, o interdito, o maldito e o bendito. Os trabalhos expostos têm uma característica em comum: [tentam explorar, retratar, refletir sobre questões psíquicas e emocionais que no fundo dizem respeito a todos nós. Muitas vezes retratando alguém muito próximo ou remetendo ao próprio autor/autora do trabalho. Segregação, preconceito, isolamento, inadequação, são alguns dos universos descortinados nas obras e ambientações que encontramos nos espaços que já foram enfermarias e hoje estão transmutados em galerias e ateliês. Espaços onde também se pensa e re-pensa a ´loucura´.

Colonia de alienadas 1911
Annaes da Colonia de Psychopatas, 1928

O Espaço hoje conhecido como “Instituto Nise da Silveira” foi no passado um Complexo Hospitalar, ocupando um quarteirão inteiro no bairro Engenho de Dentro, na verdade denominado “Colônia de Alienadas de Engenho de Dentro”, fundada em 1911. Essa ´colônia`, com características rurais, recebeu as pacientes indigentes do hospício de Pedro II. A partir da década de 1940, a Dra. Nise da Silveira trabalhou com métodos humanizados de terapia, onde a arte foi incluída como elemento essencial, revolucionando o tratamento de pacientes psiquiátricos. A partir dos anos 2000, o instituto teve sua administração transferida para a municipalidade e foi rebatizado com seu nome.

– Estamos encravados na Zona Norte do Rio, no Bairro do Engenho de Dentro, que faz limite com seis ou sete bairros próximos, além da linha amarela que é o caminho que liga a Zona Norte à Zona Oeste. Neste sentido, estamos muito bem-posicionados, por outro lado, para uma cidade hegemônica, estamos muito mal posicionados, porque a Cidade que interessa aparecer é a da Zona Sul. – Marcelo Moura Valle

As exposições são de duração curta em geral, visando uma reciclagem, o dinamismo constante. Nas palavras de Marcelo, manter o espaço vivo, pulsante, em movimento sempre. Em oposição ao que era no passado, onde havia uma postura em neutralizar os internos, mantê-los controlados a base de práticas agressivas e drogas que foram com o tempo postas de lado, com a evolução do movimento antimanicomial e a transição para os novos paradigmas dos métodos humanizados de terapia, onde a Dra Nise foi pioneira, tornando-se referência dentro e fora do país. Essas novas terapias trouxeram os pacientes para o papel de protagonistas, onde passaram a interagir com o mundo e se expressar através da arte.

“Trata-se de um espaço terapêutico em saúde mental onde o cuidado integral é exercido por meio da arte. Mais do que um mero paciente, o usuário é cidadão ativo e criativo no processo de recuperação, proteção e promoção da sua saúde de modo totalmente integrado à sociedade” – Anderson Pinto, chefe do Serviço de Psicologia do HUCFF

Os residentes multiprofissionais que participaram da visita: Ana Carolina Giusti Tavares, Ana Beatriz Ramos de Souza, Caroline Silva do Vale, Gabriela Ramos de Moura, João Costa Chi, Israel Pereira Cerqueira

Sobre a Ebserh

O HUCFF faz parte do Complexo Hospitalar da UFRJ, gerido pela Ebserh desde junho de 2024. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.

Fotos e redação: Marco Brandt